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Colega, vamos falar de telemedicina sem romantização ou achismos. A realidade é que muitos de nós fomos empurrados para esse modelo durante a pandemia, mas agora é hora de fazer direito – e evitar os erros que vi (e cometi) ao longo desses anos.
O maior equívoco que observo é subestimar a complexidade da consulta remota. Não se trata apenas de replicar o presencial via vídeo. A anamnese muda, o exame físico fica limitado (mas não inexistente), e a dinâmica da relação médico-paciente se transforma.
Um exemplo prático: como você avalia um quadro de dor abdominal à distância? Precisa de protocolos específicos, saber quando NÃO prosseguir com a teleconsulta e ter red flags bem definidas. Já vi casos graves serem negligenciados por conta dessa falsa sensação de segurança.
Não adianta querer fazer telemedicina com internet discada e um celular tremidão. Você precisa de:
Falo por experiência: quando testamos o ClínicaWork para teleconsultas, percebemos que a integração com prontuário eletrônico era essencial. Tentar conciliar chamada de vídeo com anotações em papel é receita para desastre.
Além dos aspectos técnicos, tem a regulamentação. O CFM tem resoluções específicas sobre telemedicina que muitos ignoram:
Um detalhe crucial: seu contrato de trabalho ou plano de saúde pode ter cláusulas restritivas sobre telemedicina. Já vi colega ter que devolver honorários por desconhecer isso.
Por mais tentador que seja a comodidade, existem limites claros:
Tenha critérios rígidos para triagem. Uma dica que uso: se eu precisaria do estetoscópio ou doximetro na consulta presencial, provavelmente não deveria ser telemedicina.
A telemedicina não pode ser um processo paralelo. Precisa estar integrada à sua rotina:
- Agendamento único (mesmo sistema para presencial e remoto)
- Prontuário unificado
- Fluxo de encaminhamentos
- Controle de estoque de receitas
No meu consultório, usamos o ClínicaWork para centralizar tudo. O paciente agenda igual, seja presencial ou remoto, e todo o histórico fica disponível de forma integrada. Isso evita aquela confusão de ter que ficar alternando entre sistemas.
Esse é o ponto mais delicado. Como manter o vínculo sem o contato físico? Algumas estratégias que funcionam:
1. Manter contato visual (olhe para a câmera, não para a tela)
2. Usar linguagem ainda mais clara que no presencial
3. Criar rituais de início e fim de consulta
4. Ter um canal de comunicação entre consultas (mas com limites!)
Um erro comum é deixar a consulta remota muito mecânica. O paciente precisa sentir que está sendo acolhido, mesmo à distância.
WhatsApp não é plataforma de telemedicina. Ponto. Você está lidando com dados sensíveis e precisa de:
Se for usar alguma solução, verifique a LGPD. O ClínicaWork, por exemplo, tem todas as certificações necessárias, mas isso não é regra para todos os sistemas.
Aqui vai uma opinião polêmica: teleconsulta não deve ser mais barata que presencial. O tempo médico é o mesmo, a responsabilidade é a mesma. O que observo:
- Planos de saúde pagam menos pela telemedicina (injustamente)
- Muitos colegas desvalorizam o próprio trabalho
- Pacientes tendem a achar que "é só uma ligação"
Minha conduta: mesmo valor para ambas as modalidades. Explico claramente ao paciente que está pagando pelo meu conhecimento, não pelo meio.
Para fechar, alguns problemas práticos que podem sabotar sua teleconsulta:
- Iluminação ruim (você precisa ser visto claramente)
- Áudio com eco (use fones de ouvido)
- Falta de plano B (o que fazer se a conexão cair?)
- Não testar a plataforma antes
- Esquecer de orientar o paciente sobre preparo prévio
Em resumo: telemedicina veio para ficar, mas exige preparo real. Não é atalho, é outra forma de exercer a medicina - com suas próprias regras e desafios.