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Colega, vamos falar de telemedicina sem aquela romantização que a maioria dos textos faz por aí. Todo mundo fala das vantagens – e elas existem, claro – mas quase ninguém te alerta sobre os perrengues que só quem está na trincheira conhece. Se você está pensando em implementar ou já usa teleconsulta, precisa estar ciente dessas armadilhas.
O primeiro mito é que telemedicina é mais fácil que consulta presencial. Mentira. Na verdade, exige mais preparo, não menos. Você não tem o luxo do exame físico, então sua anamnese precisa ser cirúrgica. E adivinha? Muitos pacientes não sabem descrever sintomas direito. Já tive caso de dor abdominal que o paciente descreveu como "uma fisgada" e era apendicite aguda. No presencial, eu teria pego no exame.
Sem contar que a tecnologia às vezes trava, o áudio falha, a conexão cai. Já precisei encerrar consulta e remarcar porque o paciente estava em área sem sinal. E aí? Como registrar isso direito pra não ter problema depois?
Isso é sério. Na telemedicina, pela dificuldade de avaliação, rola uma tendência a pedir mais exames e mais receitas "por garantia". Você já deve ter visto isso. O paciente liga com uma tosse, você não ausculta, então manda raio-X "só pra ter certeza". No presencial, talvez nem pediria. Isso infla custos e pode expor o paciente a riscos desnecessários.
Aqui vai um segredo sujo: muitos colegas acham que gravar a consulta os protege. Errado. Pode ser justamente o contrário. Se você comete um erro e está tudo registrado em vídeo, adivinha qual será a prova principal no processo? Sem falar que muitos sistemas não armazenam essas gravações direito. O ClínicaWork, por exemplo, tem criptografia e armazenamento seguro, mas mesmo assim exige configurações específicas.
Outro ponto: consentimento. Não adianta só o paciente clicar em "aceito os termos". Tem que ser um consentimento informado e específico para telemedicina, explicando limitações. Já vi caso de médico que perdeu ação porque o paciente alegou que "não sabia que a consulta online tinha restrições".
Toda plataforma diz que é segura, mas poucas realmente são. Você sabe onde os dados dos seus pacientes estão sendo armazenados? Se for em servidor nos EUA, por exemplo, pode estar violando a LGPD. E adivinha quem responde? Você, não a plataforma.
Ferramentas como o ClínicaWork oferecem relatórios detalhados de compliance, mas mesmo assim, o médico precisa auditar. Já peguei caso de colega que descobriu, só depois de um vazamento, que as gravações das consultas estavam sendo guardadas em servidor compartilhado com outras clínicas.
Aqui está um dos maiores gargalos. Muitos sistemas de telemedicina não integram direito com seu prontuário eletrônico principal. Resultado? Você tem que digitar tudo duas vezes ou fica com informações fragmentadas. Isso é receita para erro médico.
Uma coisa que aprendi na prática: se for usar telemedicina, exija integração total com seu sistema principal. O ClínicaWork, por exemplo, permite que as anotações da teleconsulta vão direto para o prontuário do paciente, com timestamp e tudo mais. Mas muitos sistemas não fazem isso – e você só descobre quando já está usando.
Tem um esquema sujo crescendo: pacientes marcam teleconsulta com sintomas falsos só para conseguir atestado ou receita. Como você não vê a pessoa, fica mais difícil perceber. Já peguei caso de paciente que marcou três teleconsultas em um dia, com médicos diferentes, para juntar receitas de controlados.
Alguns sistemas mais robustos têm checagem de CPF e cruzamento de dados, mas muitos não. Você precisa ter protocolos rígidos para evitar cair nessa.
Telemedicina funciona bem para casos agudos e simples, mas é um desastre para acompanhamento crônico se não for bem estruturado. Pacientes ficam "pulando" entre médicos em diferentes teleconsultas, ninguém pega a história completa, as medicações se sobrepõem...
Se for fazer acompanhamento por telemedicina, estabeleça um protocolo claro. Defina quem é o médico responsável, como as informações serão compartilhadas, como será a continuidade. Do contrário, vira bagunça.
Muitos planos de saúde pagam menos pela teleconsulta, mas o trabalho muitas vezes é o mesmo ou até maior. E tem convênio que só cobre telemedicina se for através da plataforma deles – que geralmente é uma porcaria. Você precisa conhecer os contratos a fundo para não se prejudicar.
Cuidado com sistemas que dizem ser gratuitos para o médico. Nada é de graça. Se você não está pagando, o produto é você – ou melhor, seus dados e seus pacientes. Algumas plataformas vendem dados agregados para indústria farmacêutica, por exemplo. Outras cobram taxas abusivas dos pacientes.
Sistemas sérios como o ClínicaWork são transparentes no modelo de negócios: você paga pelo software, mas mantém controle total sobre os dados. Prefira sempre essa abordagem.
Isso aqui é ouro, colega: telemedicina é complemento, não substituto. Quando tentam fazer ela substituir totalmente o contato pessoal, a qualidade do cuidado cai. Tem coisas que só se pega no olho no olho – desde a linguagem corporal até aquele cheiro característico de algumas patologias.
Em resumo: telemedicina veio para ficar e pode ser ótima ferramenta, mas exige mais preparo, não menos. Conheça as armadilhas, estruture seu processo e nunca, nunca deixe a tecnologia substituir seu julgamento clínico.