-->
Colegas, vamos falar de um tema que está batendo na nossa porta com cada vez mais força: a interseção entre tecnologia e ética médica. Não é mais uma discussão teórica – está acontecendo agora, no nosso dia a dia, e precisamos encarar de frente.
Lembram quando a maior preocupação ética era sobre quanto tempo dedicávamos a cada paciente? Pois é, agora o problema ganhou novas camadas. Sistemas como o ClínicaWork trazem eficiência operacional, mas até que ponto podemos automatizar processos sem perder a essência do cuidado?
Um exemplo concreto: o prontuário eletrônico. Por um lado, é uma ferramenta poderosa que organiza informações e melhora a continuidade do cuidado. Por outro, já vi colegas (e me pego fazendo isso às vezes) digitando enquanto o paciente fala, dividindo a atenção entre a tela e a pessoa. Isso muda fundamentalmente a dinâmica da consulta.
Alguns pontos que considero críticos:
Com a digitalização dos registros médicos, a questão da privacidade ganhou proporções épicas. O ClínicaWork, por exemplo, segue todas as normas da LGPD, mas a responsabilidade final é nossa. Algumas reflexões:
Quantos de nós já compartilhamos telas em videoconsultas sem fechar outras abas com informações sensíveis? Já pensaram nos riscos de acessar prontuários em redes públicas? E os backups - onde estão sendo armazenados?
O pior é que muitos desses vazamentos acontecem sem má intenção. Um descuido aqui, um atalho ali, e pronto: violamos a confidencialidade sem nem perceber.
Aqui surge um dilema interessante. Queremos que os dados dos pacientes estejam acessíveis para garantir continuidade do cuidado, mas ao mesmo tempo precisamos restringir o acesso para proteger a privacidade. Como equilibrar?
Algumas práticas que adotei:
Se os sistemas de gestão já nos dão dor de cabeça ética, a IA está trazendo desafios que nem sabíamos que existiam. Não estou falando de ficção científica - estou falando de algoritmos que sugerem diagnósticos, priorizam pacientes e até recomendam tratamentos.
O grande perigo aqui é a delegação não crítica. Já vi casos onde colegas aceitaram sugestões de sistemas sem questionar, simplesmente porque "o computador disse". Isso é antiético por dois motivos:
Outro ponto crucial: entendemos como essas ferramentas tomam decisões? Quando um sistema como o ClínicaWork usa IA para auxiliar na gestão, temos o direito (e o dever) de saber quais parâmetros estão sendo considerados.
Um exemplo prático: se o sistema prioriza determinados pacientes para agendamento com base em algoritmos, precisamos garantir que não há vieses embutidos nessa seleção. Já pensaram nas implicações éticas se o algoritmo, sem querer, estiver privilegiando certos perfis demográficos?
A pandemia nos jogou de cabeça na telemedicina, e muitos de nós continuamos usando. Mas será que estamos adaptando nossa ética a essa nova realidade?
Alguns pontos que me preocupam:
Um colega me contou sobre um paciente que fez consulta pelo celular enquanto dirigia. O médico não percebeu imediatamente. Quando notou, interrompeu a consulta, mas o dano já estava feito - a atenção estava dividida. Situações como essa mostram como a tecnologia cria novos desafios éticos que não existiam no consultório físico.
Os sistemas de gestão trazem métricas detalhadas: tempo médio por consulta, número de pacientes atendidos, taxa de ocupação. Isso é ótimo para administrar a clínica, mas pode ser perigoso quando vira obsessão.
Já vi clínicas onde os médicos são pressionados a reduzir o tempo de consulta porque o sistema mostra que estão "abaixo da produtividade média". Isso é uma distorção ética grave. O ClínicaWork, por exemplo, oferece esses dados, mas cabe a nós decidir como usá-los.
O risco é transformar a medicina em linha de produção, onde números importam mais que pessoas. E quando isso acontece, todo mundo perde - pacientes, médicos e a sociedade como um todo.
Não estou dizendo que devemos rejeitar a tecnologia. Longe disso. Ferramentas como o ClínicaWork são essenciais para clínicas modernas. Mas precisamos usá-las com sabedoria, sempre mantendo os princípios éticos no centro das decisões.
Em resumo, os limites entre tecnologia e ética médica estão sendo redesenhados a cada dia. Cabe a nós, médicos, garantir que esse progresso técnico nunca supere nosso compromisso fundamental com o paciente. A tecnologia deve servir à medicina, não o contrário.