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Colega, vamos começar desmistificando uma bobagem que rola por aí: achar que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) é só mais uma burocracia pra encher o saco ou algo que o "cara da TI" resolve sozinho. Não é. Isso aqui é sobre como você lida com as informações mais sensíveis que existem - dados de saúde - e o risco de vazar isso vai muito além de uma multa.
Pensa comigo: quando um paciente te conta aquela história íntima, aquela condição delicada, ele está depositando confiança. Se esses dados vazam, o prejuízo moral é irreparável. Sem falar na sua reputação profissional, que leva anos pra construir e minutos pra destruir.
Antes de qualquer coisa, faça um mapeamento básico: quais dados você coleta, onde armazena e quem tem acesso. Isso inclui:
Um erro comum é achar que só porque está "na nuvem" está seguro. Onde exatamente está essa nuvem? O provedor cumpre a LGPD? Perguntas que você, como responsável pelos dados, precisa saber responder.
Aqui tem uma nuance importante: para dados de saúde, o consentimento é apenas uma das bases legais possíveis. Como médico, você pode processar dados sob o argumento da prestação de serviços de saúde - mas isso não te isenta de ser transparente.
Na prática, isso significa:
Vou ser direto: senha "1234" no sistema, anotações de paciente deixadas na recepção e WhatsApp cheio de exames não criptografados é pedir pra ter problema. Algumas medidas básicas:
Depois de ajudar dezenas de colegas a se adequarem, vi alguns erros que se repetem:
Coletar dados demais "porque um dia pode ser útil" é furada. Cada dado que você armazena é um dado que pode vazar. Se não tem utilidade clínica ou administrativa direta, não colete.
Mandar laudo por WhatsApp pra paciente pode parecer prático, mas é um risco enorme. Se for fazer isso, use pelo menos um sistema que criptografe a comunicação ponta-a-ponta.
Fazer backup é essencial, mas deixar um HD externo com todos os prontuários jogado na gaveta é tão arriscado quanto não ter backup. Criptografe esses dados.
A boa notícia é que você não precisa programar nada ou entender de firewalls. Algumas soluções práticas:
O importante é escolher ferramentas que realmente entendam o contexto da saúde. Um sistema genérico não vai te ajudar com especificidades como tempo mínimo de retenção de prontuários, por exemplo.
Algumas situações onde vale a pena investir em um consultor:
Mas para a maioria dos consultórios individuais, com um pouco de organização e as ferramentas certas, é possível se adequar sem gastar fortunas.
De nada adianta você se preocupar com LGPD se a recepcionista deixa a tela do computador aberta ou o secretário manda prontuário pro e-mail errado. Capacitação mínima da equipe é essencial:
Em resumo, a LGPD não é sobre burocracia - é sobre exercer sua medicina com responsabilidade digital. E no fim das contas, proteger os dados dos seus pacientes é tão importante quanto proteger sua saúde.