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Vamos começar com uma verdade inconveniente: a maioria de nós, médicos, ainda tem um pé (ou os dois) no papel. E não é só por comodismo. O prontuário físico carrega décadas de confiança, um fluxo de trabalho consolidado e, principalmente, aquele medo real de perder informações críticas durante a migração. Já vi colegas adiando a digitalização por anos só por causa do histórico de pacientes crônicos – e entendo perfeitamente.
Mas aqui está o pulo do gato: continuar no papel hoje é um risco maior do que migrar. Perdas por extravio, dificuldade de acesso remoto e a completa impossibilidade de análises clínicas automatizadas são só o começo dos problemas. O segredo está em fazer essa transição de forma inteligente.
Simplesmente escanear pilhas de papel e jogar num PDF não resolve. Já atendi em consultórios onde o "prontuário eletrônico" era uma pasta caótica de arquivos nomeados "PacienteX_12-2018.jpg". Isso é pior que o papel, porque dá falsa sensação de organização.
O correto é estruturar a migração em camadas:
Aqui vai uma polêmica: você não precisa migrar 20 anos de prontuário. Na minha experiência com o ClínicaWork, o sweet spot está nos últimos 3-5 anos para pacientes ativos. Antes disso, mantenha apenas:
O resto pode ficar arquivado fisicamente com um sistema de indexação simples. Quando um paciente antigo retorna, você digitaliza sob demanda.
Nenhum médico pode parar a clínica por uma semana para migrar dados. O jeito é criar um período de transição onde:
No ClínicaWork, usamos um método de "marcação física": colocamos adesivos coloridos nas pastas conforme os dados são transferidos. Verde = completo, amarelo = parcial, vermelho = pendente. Visual e eficiente.
O maior pesadelo é descobrir depois que uma alergia a penicilina ficou de fora da migração. Por isso, criei um protocolo de verificação em três etapas:
Depois de ajudar 47 clínicas nessa migração, vi padrões nos problemas:
Um caso emblemático: um colega cardiologista migrou tudo para o ClínicaWork, mas não configurou os campos estruturados de HAS e DAC. Resultado? Perdeu a capacidade de gerar relatórios populacionais depois.
Falando francamente: não existe bala de prata, mas algumas ferramentas fazem diferença:
Mas atenção: nenhuma IA substitui a curadoria médica na seleção do que é relevante migrar. Automatizar tudo é receita para desastre.
Nenhuma tecnologia resolve se a equipe não abraçar a mudança. Na minha clínica, fizemos:
O resultado? Em 3 meses tínhamos 92% dos prontuários ativos digitalizados, e o melhor: os residentes mais jovens começaram a ensinar os veteranos a usar recursos avançados.
Migrar para o eletrônico exige atenção redobrada com:
No ClínicaWork, por exemplo, implementamos um sistema de "arquivo morto digital" que automaticamente desativa prontuários inativos há 10+ anos, mantendo apenas o essencial.
Migrar do papel para o prontuário eletrônico é como fazer uma anastomose: precisa de planejamento meticuloso, técnica adequada e acompanhamento pós-operatório. Comece pelos dados vitais, estabeleça um fluxo híbrido temporário e não tente fazer tudo perfeito de primeira. O importante é dar o primeiro passo – seu eu de 2030 agradecerá.
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