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Colega, vamos falar de um assunto que tira o sono de qualquer médico: como documentar aquela conduta necessária, porém arriscada, sem que isso vire um convite para processos judiciais. A verdade é que a medicina não é exata, e muitas vezes precisamos tomar decisões difíceis – o problema é quando a documentação dessas decisões é mal feita e vira prova contra nós.
Todo mundo que já atendeu em emergência ou lidou com casos complexos sabe: às vezes a conduta ideal teoricamente não é viável na prática. Pode ser por limitação de recursos, condições do paciente, ou simplesmente porque o risco-benefício aponta para outro caminho. O erro começa quando a gente não registra direito o raciocínio por trás dessa decisão.
Um exemplo clássico é o paciente com contraindicação relativa a um procedimento, mas que você decide fazer mesmo assim porque os benefícios superam os riscos. Se isso não estiver bem documentado, pode ser interpretado como negligência depois.
Chamo isso de "documentação protetora" não no sentido de esconder algo, mas de proteger o paciente e a si mesmo registrando todo o processo decisório. Um sistema como o ClínicaWork ajuda porque força a estruturação dessas informações, mas o conteúdo depende de você.
Vamos pegar um caso real: paciente idoso com alto risco cirúrgico que precisa de uma operação emergencial. Você decide operar mesmo com os riscos. Como documentar?
Observe como a linguagem faz diferença. Compare:
Ruim: "Paciente com risco cirúrgico aumentado. Optado por cirurgia."
Bom: "Paciente apresenta [lista de comorbidades] com escore de risco ASA 4. Diante de [diagnóstico] com risco iminente de [complicação], após discussão com equipe e família, optamos pela abordagem cirúrgica considerando que: 1) O risco da não-intervenção supera o risco operatório; 2) Foram esgotadas alternativas clínicas [descrever]; 3) Família compreendeu e aceitou os riscos [detalhar conversa]."
Mesmo com tudo documentado, pode haver complicações. Aqui entra outro erro comum: a tentativa de "melhorar" o prontuário depois do fato. Nunca faça isso. Em vez disso:
Um recurso útil em sistemas como o ClínicaWork é o registro automático de data e hora para cada entrada, o que dá segurança jurídica ao documento.
Ferramentas digitais podem ajudar muito, mas não substituem o juízo clínico na hora de documentar. O que eu gosto no ClínicaWork, por exemplo:
Mas atenção: templates prontos são armadilhas se usados sem adaptação. Sempre personalize para o caso concreto.
Às vezes o risco está em não fazer algo. Por exemplo, não solicitar um exame caro ou invasivo. Documente:
Documentação boa de conduta de risco não é sobre se proteger, mas sobre registrar fielmente o processo decisório. Seja completo, objetivo e específico. Use a tecnologia a seu favor, mas não deixe que ela substitua seu critério. E lembre-se: prontuário não é diário - evite opiniões pessoais ou julgamentos.
No final das contas, a melhor defesa é uma boa prática médica bem documentada. Porque se um dia você precisar explicar suas decisões na justiça, será esse registro que vai mostrar que você agiu com ciência, ética e dentro do que há de melhor na medicina.