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Colega, se tem uma coisa que me preocupa na prática médica atual é a crescente judicialização da medicina. E quando falamos de laudos, o buraco é mais embaixo. Auditorias em laudos não são só uma questão de qualidade assistencial – viraram uma necessidade de sobrevivência profissional. E os peritos? Esses caras não perdoam falhas que, na nossa rotina corrida, podem parecer bobagem.
Já vi casos de colegas excelentes tecnicamente se complicarem feio em processos porque negligenciaram detalhes nos laudos que, na hora, pareciam irrelevantes. O problema é que quando a coisa chega na auditoria ou num processo, esses "detalhes" viram a prova cabal de imperícia, negligência ou até fraude.
Isso aqui é clássico. O perito pega seu laudo, cruza com o prontuário e vê que a data/hora não bate com o registro de atendimento. Ou pior: descobre que você emitiu um laudo de ressonância antes mesmo do paciente ter feito o exame. Parece absurdo, mas acontece mais do que você imagina, especialmente quando usamos modelos prontos e esquecemos de ajustar datas.
Todo mundo usa templates, e isso é normal. O problema é quando o "copiar e colar" vira uma epidemia de laudos idênticos. Já analisei processos onde 20 laudos tinham exatamente a mesma redação, incluindo observações específicas que claramente não se aplicavam a todos os casos. Para o perito, isso é sinal claro de que você nem leu o exame direito.
Você descreve um nódulo sólido, heterogêneo, com microcalcificações e margens irregulares, mas na conclusão diz que é "provavelmente benigno, acompanhar". O perito não perdoa. Se os achados sugerem algo, sua conclusão precisa refletir isso com clareza. Senão, vão questionar seu julgamento clínico.
Aqui é onde muitos se queimam. Você viu um pequeno nódulo pulmonar no exame, mas como estava atrasado e o paciente era jovem/saudável, decidiu não mencionar. Dois anos depois, o paciente volta com câncer metastático e seu laudo original é auditado. Mesmo que o nódulo não fosse a causa, a omissão vira prova de negligência.
Isso aqui é uma bomba relógio. Você faz um ultrassom abdominal, vê tudo normal e solta um "sem alterações significativas". Só que o paciente tinha um histórico de litíase renal e você não mencionou especificamente os rins. Quando ele tem uma cólica renal semana depois, adivinha? Seu laudo vai ser questionado por não ter descrito os rins especificamente.
Muitos colegas migraram para laudos digitais (o que é ótimo), mas negligenciam a configuração da assinatura digital. Já vi caso de laudo ser invalidado porque a assinatura não tinha certificação ICP-Brasil válida. Se você usa um sistema como o ClínicaWork, aproveite que ele já tem essa funcionalidade integrada e configure direito.
Você classifica um BI-RADS 3 num laudo e BI-RADS 4 numa lesão muito similar em outro paciente, sem justificar a diferença. Para o perito, isso é inconsistência grave. Se usar classificações, seja consistente ou explique claramente por que um caso é diferente.
Ferramentas de gestão podem reduzir muito esses erros, mas atenção: elas são auxiliares, não substitutos do seu julgamento clínico. O ClínicaWork, por exemplo, tem algumas funcionalidades interessantes:
Mas repito: de nada adianta ter a melhor ferramenta se você não revisa o que está laudo. O sistema pode te alertar sobre um campo vazio, mas não vai questionar sua conclusão clínica.
Além dos erros grosseiros, os peritos têm mania de analisar coisas que muitos médicos nem imaginam:
Para você ter noção do que estou falando, vou contar dois casos (com dados alterados, claro) que vi pessoalmente:
Caso 1: Colega radiologista laudou uma tomografia como "normal" sem mencionar pequeno nódulo pulmonar. Dois anos depois, paciente com câncer avançado. O perito não questionou se aquele nódulo era a origem (não era), mas sim a omissão no laudo. Resultado: condenação por erro técnico.
Caso 2: Médico usou template de laudo de ecocardio com a frase "valva mitral com leves sinais de degeneração mixomatosa". Problema? O paciente tinha prótese valvar mecânica. O perito considerou fraude, pois ficou claro que o médico nem olhou o exame.
Depois de ver tantos casos, criei um checklist pessoal que compartilho com meus residentes:
Em resumo, colega, laudo perfeito não existe, mas laudo negligente é mais comum do que deveria. Na dúvida, seja detalhista. Um laudo um pouco mais longo mas preciso te protege muito mais do que um laudo sucinto que omite informações.
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